sanjay-gupta-weed-cnn

no último fim de semana a cnn exibiu um documentário sobre maconha medicinal que vem causando alvoroço nas redes sociais e na mídia em geral. produzido por sanjay gupta, correspondente-chefe da emissora para assuntos de saúde, o documentário defende que a maconha pode ser usada com sucesso para tratamento de várias doenças e isso só não acontece por preconceito e falta de vontade da classe médica em estudar a planta.

o filme aponta que, de todos os estudos feitos nos estados unidos sobre a cannabis, 94% são sobre os malefícios da substância. apenas 6% dos estudos visam pesquisar sobre os benefícios. daí já dá para se ter uma noção de como o viés dos estudos está totalmente equivocado e carregado de pré-conceitos.

o próprio sanjay, que era ferrenho detrator da maconha dentro da classe médica, fez um mea culpa e escreveu um artigo no site da emissora pedindo desculpas por informar o público de forma errônea a respeito da cannabis durante todos esses anos. ele diz que, quando resolveu estudar a fundo o assunto, percebeu o tamanho da bobagem que é dita sobre a substância na grande imprensa e resolveu produzir o documentário para provar que a proibição da substância para fins médicos se apóia basicamente na desinformação e na defesa de interesses econômicos.

nos estados unidos, por exemplo, é proibido plantar maconha em laboratórios, faculdades ou centros de estudos para fins de pesquisa. estas instituições precisam ter autorizações especiais do governo, mas a burocracia para obter tais licenças é tão grande que às vezes nem vale a pena tentar conseguí-las.

no documentário é mostrado o caso de charlotte web, uma garotinha de 5 anos de idade que possui um caso grave de epilepsia. ela e a irmã gêmea tiveram gestações normais e partos tranquilos, mas aos três meses de idade ela começou a ter convulsões. mesmo sob medicação pesada, o caso dela só piorava dia após dia. houve um momento em que ela chegava a ter quase 300 convulsões por semana.

depois de testarem todos os medicamentos possíveis e verem a menina vivendo em estado quase vegetativo devido às doses cavalares de remédios, os pais da criança resolveram apelar para a maconha medicinal. ela então passou a usar uma maconha especial, modificada geneticamente, com o nível de thc (o princípio ativo que dá o “barato”) reduzido a quase zero e o de cbd (outra substância presente na cannabis) mais alto.

como a maconha retarda a atividade cerebral, as convulsões praticamente cessaram. hoje a menina já consegue falar, comer e até andar de bicicleta sozinha vivendo uma vida que ainda inspira cuidados, mas um pouco mais parecida com a de qualquer outra garota da mesma idade.

veja o documentário e tire suas próprias conclusões, repare na odisséia que a família da garota teve que enfrentar para encontrar um produtor de cannabis que aceitasse vender a substância para salvar a vida de uma menina de 5 anos de idade.

grande parte da classe médica mundial não tem dúvidas que a cura para grande parte das doenças que afligem o homem está escondida em plantas da amazônia, tanto é que os maiores laboratórios do mundo vêm aqui (às vezes até de forma ilegal) para realizar pesquisas e criar “fórmulas mágicas” a partir de plantas e animais. mas só a maconha é taxada de planta malígna.

até entendo (apesar de achar absurdo) quem tem birra com o uso recreativo da maconha, mas daí a continuar nessa ladainha de não querer discutir o uso da planta para outros fins é de uma cretinice abissal.

já estamos em 2013, vamos andar pra frente, por favor.


grand theft auto

eu já coloquei aqui algumas vezes esses vídeos famosos na internet onde alguém bota pessoas para experimentarem sensações ou coisas que não fazem parte do seu universo geracional para ver como elas reagem à descoberta dessas coisas tão corriqueiras na vida de tanta gente, tipo criancinhas descobrindo o que é um disquete ou fita cassete, ou então ouvindo rap pela primeira vez.

desta vez pegaram um grupo de idosos e botaram eles para assistir trailers de “gta V”, o novo simulador de bandidagem da rockstar games.

para quem não sabe, “gta” ou “grand theft auto” é uma série de games revolucionária criada pela rockstar games onde, ao contrário da imensa maioria dos jogos do mercado, você é o bandido que enfrenta o mocinho na história.

a série é revolucionária não apenas por te colocar como personagem do submundo do crime, mas também por fazer isso num jogo de mundo aberto, ou seja, você entra no game e pode fazer literalmente o que quiser, desde andar de boa na rua, até roubar carros ou atirar em quem te der na telha e depois enfrentar as consequências disso. tudo isso entrelaçado com roteiros e narrativas de dar inveja em muito filme hollywoodiano por aí.

se você não quiser seguir a história principal do game também fica a seu critério.

pelo nível de sarcasmo (a série é conhecida por zoar sem dó nem piedade a extrema direita e o american way of life americanos), violência e liberdade do game, comumente gta é acusado de incitar a violência e servir de inspiração para essa galera que curte invadir escola e matar todo mundo nos eua. pura papagaiada.

nesse vídeo dos idosos assistindo gta é curioso ver a reação deles a estes extremos. inclusive um ex-policial faz parte do grupo e reflete sobre o que leva alguém a cometer crimes na vida real e a relação disso com videogames e tal.

gta V será lançado no mês que vem e promete ser um dos games mais vendidos da história logo na primeira semana, além de ser o principal lançamento da industria do entretenimento em 2013 tendo em vista que a produção do game custou mais ou menos o mesmo que o christopher nolan gastou pra fazer os filmes do batman, vai vendo.

abaixo o trailer do game com algumas cenas de jogabilidade.

vai ser massa.


wilco

todo mundo que curte wilco sabe que, vez ou outra, a banda se mete a tocar músicas dos outros, muito por culpa de seu líder, jeff tweedy.

essa característica vem desde a época em que ele tocava no uncle tupelo (a banda que deu origem ao wilco) quando eles até lançaram um disco só de covers e versões que iam de neil young a black flag, tudo calcado no country, geralmente com o banjo como instrumento principal. o disco em questão se chama “uncle tupelo covers and oddities”, vá atrás.

analisando as músicas homenageadas pela banda nota-se que nada é por acaso, tweedy e companhia praticamente traçam um resumão de quase tudo que você precisa ouvir pra dizer que realmente é fã de rock ou de música pop em geral. até coisas como beyoncé e black eyed peas o jeff tweedy já tocou “a sério”. ahahaha.

no último fim de semana o wilco tocou no solid sound, um festival que rola em massachusetts e que foi criado por eles mesmos para apresentarem seus projetos paralelos, bandas de amigos, artes plásticas, oficinas culturais, além do próprio wilco. daí que eles fizeram um show com 27 músicas, todas covers.

se liga no repertório matador (a maioria dessas músicas já fazia parte do repertótio do uncle tupelo, diga-se):

Wilco Setlist MASS MoCA, North Adams, MA, USA 2013

mas a maior surpresa foi eles terem tocado “get lucky” do daft punk, o grande hit da temporada. dá pra baixar o show inteiro aqui.

também tocaram pavement:

aproveitando a efeméride, abaixo algumas das minhas covers preferidas feitas por jeff tweedy e sua banda.

“thirteen” – big star

“true love will find you in the end” – daniel johnston

“peace, love and understanding” – nick lowe

“the weight” – the band (com mavis staples & nick lowe)

que banda, amigos.


pharrel

nesse primeiro semestre o pharrell causou burburinho por causa da colaboração dele com o nile rodgers e com o daft punk na música “get lucky” e ninguém passou incólume pelo hype mesmo ela não sendo a última bolacha do pacote como foi alardeado por aí.

não me entenda mal, eu acho “get lucky” muito foda, hit de pista e tal, mas não tive orgasmos múltiplos e nem a considero como a melhor música do daft punk como muitos tentaram me vender. é apenas muito boa mas, em se tratando de daft punk eu esperava muito mais. achei que a produção ficou muito simples e não explorou bem o potencial do nile, do pharrell e muito menos do próprio daft punk.

pra mim, o resultado final ficou parecendo uma música qualquer do chromeo, o que não é necessariamente ruim, mas também não tem nada de espetacular. já existem remixes e mashups bem melhores que a original, vai por mim.

se o pharrell deixou a desejar em “get lucky”, ele acertou lindamente em “blurred lines”, parceria dele com o cantor robin thicke e o rapper T.I onde, assim como na parceria com o daft punk, a aposta é no funk/soul setentista (né marvin?) com pitadas de michael jackson e uma vibe contemporânea que às vezes lembra o lcd soundsystem.

a música já está bombando nos eua e fez o disco de mesmo nome chegar ao 2º lugar da billboard e agora já começa a invadir a europa, terra dos festivais de verão que começam logo mais.

além de ser muito boa, um dos motivos que alavancou a canção na terra do obama foi o fato do videoclipe da música ter sido banido do youtube por “ferir os termos de uso” do site. no vídeo, os cantores aparecem rodeados de gatas dançando e cometendo altas peladezas, pra variar.

blurred lines

posteriormente, foi lançado uma versão “limpinha” do clipe para agradar as pessoas que zelam pelas tradições e bons costumes que ficou totalmente sem graça, já que a música em si versa sobre putaria e essas coisas. achei que ficou parecendo propaganda de perfume, perdeu o propósito.

além da polêmica do clipe, algumas pessoas tentaram imputar um tom misógino à canção dizendo que ela degrada a mulher e tal. eu, sinceramente, acho que não é o caso.

o problema é que a canção (e a putaria) só fica verossímil se o intérprete tiver confiança e uma certa marra e, convenhamos, o robin thicke não é esse cara, ele é muito almofadinha para o trabalho e meio que desconhecido do grande público o que acaba fazendo a música se virar contra o autor. se fosse o justin timberlake (que é só um pouco menos coxinha) talvez a história fosse outra, vai saber.

se há alguma coisa que estraga a música é o rap do T.I., que só está ali pra dar um certo street cred que o robin não tem. se eu fosse o pharrell botaria um solo fodão de alguma coisa ali e já era.

enfim, o vídeo abaixo é a versão banida (não veja se estiver no trabalho):

muito hit.


caetano01

olha essa entrevista de 1978 do caetano no vox populi, lendário programa da tv cultura, onde ele explica o significado da palavra “curtir”. 

é muito surreal como o apresentador já vem todo carregado de preconceito a respeito da palavra dita por “certos grupos humanos” e o caetano simplesmente destrói o argumento dele e já aproveita para discorrer sobre a importância de se falar gírias. muito massa.

não tenho certeza, mas acho que a discussão sobre gírias se deu por causa do mega-hit do caetano “você não entende nada”, onde ele usa a palavra “curtida” no seguinte trecho:

“Você não está entendendo
Quase nada do que eu digo
(…)
Eu me sento, eu fumo, eu como, eu não aguento
Você está tão curtida”

vamos se curtir, gente.


eles foram naquele mesmo programa de rádio na austrália onde o dirty projectors fez aquele cover de usher e mandaram um outkast de responsa.

ficou show.


já faz uns 5 anos pelo menos que vem rolando no mundo uma onda de fortes transformações sociais no que diz respeito aos costumes e modos de pensar que talvez julgássemos normais, insignificantes ou apenas adormecidos até pouco tempo atrás.

claro que o feminismo, a causa gay, o combate ao racismo e outros movimentos não surgiram hoje, nem ontem, mas me parece que essas e outras causas ganharam uma tremenda visibilidade nos últimos anos. creio que o surgimento e popularização das redes sociais tiveram papel fundamental para que esses movimentos e suas causas fossem alavancados e trazidos de volta aos holofotes com tanta força.

note que praticamente todo dia há alguma polêmica relacionada a esses temas ou a questões correlatas a eles na internet, seja no facebook, no twitter, youtube ou qualquer outra rede do tipo. não me lembro de isso acontecer com tanta frequência antes das redes sociais, pelo menos não a ponto de pautarem debates (ainda que rasos) na televisão e muito menos entre os congressistas em brasília.

resultados concretos dessa “militância virtual” (odeio este termo) já podem ser sentidos no mundo real com mais veemência. se antes cobrar por atitudes e soluções ficava restrito a ongs e outros grupos organizados, hoje qualquer pessoa pode fazer pressão política sem necessariamente se aliar a nenhuma organização de fato. mesmo que seja do conforto do seu sofá.

hoje malandro já percebeu que não pode dar deslize e xingar garis ou gays ou nordestinos na tv e depois dizer que estava apenas brincando ou contando piada. se o fizer já sabe que vão xingar muito no twitter. e, melhor ainda, já sabe que essas reclamações vão chegar diretamente aos seus ouvidos, sem filtro.

depois não adianta vir com discursinho de que o mundo está ficando politicamente correto e cheio de recalque. muito embora, às vezes seja um pouco disso também, nada te dá o direito de usar sua babaquice a favor do preconceito e da discriminação.

os exemplos são vários e estão todos aí: boris, rafinhas, malafaias, felicianos… e convenhamos, todos são vítimas apenas da própria estupidez.

além disso, o que há de errado na correção política? não é o que todos queremos desde que começamos a nos organizar em sociedades civilizadas?

claro que com essa facilidade de comunicação oferecida a todos, ganha voz também aquela corrente que quer ver o mundo girar ao contrário e que, para isso, produz todo um chorume de ideias indefensáveis.

o bom é que no mundo de hoje existem três opções: ou você banca o que disse e encara as consequências; ou desmente o que disse e encara as consequências; ou não diz nada e encara as consequências. o fato é que haverá consequências, mesmo que indiretas.

enfim.

passeando no youtube me deparei com um vídeo de uma estudante americana de ascendência coreana chamada rachel rostad onde ela declama um poema duro sobre como as séries de livros do harry potter, mesmo que talvez de forma inconsciente, possui e reproduz traços e clichês racistas e homofóbicos.

para dar sustentação à sua fala, o poema foi composto como se fosse uma carta escrita por cho chang, uma personagem asiática da série de livros, direcionada a j.k rowling, a autora da trama.

não li nenhum livro e também não vi nenhum filme da série, portanto, não posso dar opinião nem dizer se a acusação procede, mas como a crítica dela não se restringe apenas aos livros do harry potter (eles são apenas usados para exemplificar como a produção cultural ocidental recente está enraizada nesses valores) achei os argumentos da menina bem pertinentes, embora ela mesma abuse de clichês e generalizações.

abaixo boto o vídeo, gravado durante um concurso de poemas na universidade de barnard em nova york, e logo em seguida a transcrição do texto (se alguém tiver a tradução em português me avise que eu colo aqui com os devidos créditos).

assista ao vídeo, a coragem dela é impressionante.

When you put me in your books, millions of Asian girls across America rejoiced! Finally, a potential Halloween costume that wasn’t a geisha or Mulan! What’s not to love about me? I’m everyone’s favorite character! I totally get to fight tons of Death Eaters and have a great sense of humor and am full of complex emotions!

Oh wait. That’s the version of Harry Potter where I’m not fucking worthless.

First of all, you put me in Ravenclaw. Of course the only Asian at Hogwarts would be in the nerdy house. Too bad there wasn’t a house that specialized in computers and math and karate, huh?

I know, you thought you were being tolerant.
Between me, Dean, and the Indian twins, Hogwarts has like…five brown people? It doesn’t matter we’re all minor characters. Nah, you’re not racist!

Just like how you’re not homophobic, because Dumbledore’s totally gay!

Of course it’s never said in the books, but man. Hasn’t society come so far?

Now gays don’t just have to be closeted in real life—they can even be closeted fictionally!

Ms. Rowling. Let’s talk about my name. Cho. Chang.

Cho and Chang are both last names. They are both Korean last names.

I am supposed to be Chinese.

Me being named “Cho Chang” is like a Frenchman being named “Garcia Sanchez.”

So thank you. Thank you for giving me no heritage. Thank you for giving me a name as generic as a ninja costume. As chopstick hair ornaments.

Ms. Rowling, I know you’re just the latest participant in a long tradition of turning Asian women into a tragic fetish.

Madame Butterfly. Japanese woman falls in love with a white soldier, is abandoned, kills herself.

Miss Saigon. Vietnamese woman falls in love with a white soldier, is abandoned, kills herself.

Memoirs Of A Geisha. Lucy Liu in leather. Schoolgirl porn.

So let me cry over boys more than I speak.

Let me fulfill your diversity quota.

Just one more brown girl mourning her white hero.

No wonder Harry Potter’s got yellow fever.

We giggle behind small hands and “no speak Engrish.”

What else could a man see in me?

What else could I be but what you made me?

Subordinate. Submissive. Subplot.

Go ahead. Tell me I’m overreacting.

Ignore the fact that your books have sold 400 million copies worldwide.

I am plastered across movie screens,

a bestselling caricature.

Last summer,

I met a boy who spoke like rain against windows. –

He had his father’s blue eyes.

He’d press his wrist against mine and say he was too pale.

That my skin was so much more beautiful.

To him, I was Pacific sunset,

almond milk, a porcelain cup.

When he left me, I told myself I should have seen it coming.

I wasn’t sure I was sad but I cried anyway.

Girls who look like me are supposed to cry over boys who look like him.

I’d seen all the movies and read all the books.

We were just following the plot.

como eu disse, o argumento da menina em si, por vezes, contém clichês e generalizações. consciente disso, a própria rachel gravou uma vídeo-resposta bastante lúcida sobre o assunto.

vendo alguns comentários sobre o vídeo, é impressionante como sempre tentam desmerecer o argumento da menina com a justificativa de que é apenas um livro ou, pior ainda, de que ela está apenas tentando criar polêmica para “aparecer”. ou então tentam desmerecê-la atacando a pessoa e não o argumento dela. isso só empobrece a discussão levando-a para a vala do lugar comum, das generalizações e do preconceito que, veja só, é o ponto de todo o debate proposto por ela.

acho perfeitamente possível gostar e ser fã de um livro e ao mesmo tempo identificar e reconhecer que existem pontos problemáticos nele. esse argumento de que é apenas um livro e de que “se não gostou, não leia” é muito raso, uma vez que se esse mesmo livro vende milhões de cópias e depois é transformado em filmes e centenas de subprodutos é porque, de alguma forma, ele reflete, afeta e/ou influencia o modo como as pessoas pensam ou acreditam. logo ele pode sim ajudar a criar ou estabelecer preconceitos e percepções.

isso vale pra você também, dona bíblia.

acho que seria de grande valia se escritores (e qualquer outro tipo de artista) fossem mais politicamente ativos e discutissem mais sobre o peso filosófico daquilo que produzem, que tomassem mais posicionamento e refletissem mais sobre o que acontece no mundo fora de suas obras.

é uma pena, por exemplo, ver um escritor enfiar a mão debaixo do vestido de uma mulher sem a permissão dela e depois achar tudo isso normal e ainda fazer piada sobre o fato. pior ainda é ver que nenhum outro escritor se posicionou realmente sobre o assunto.

se ninguém se prontificar a discutir esses assuntos, continuaremos a repetir os mesmos erros que já duram séculos e séculos. continuaremos apenas seguindo o roteiro.

aguentemos as consequências.

*** dá pra saber mais sobre a tal rachel rostad nos links abaixo:

http://rachelrostad.tumblr.com/
https://www.facebook.com/rachelrostad


não entendi muito bem qual é a proposta do lance todo, mas achei legal.


outro dia me peguei vendo um vídeo do dirty projectors (minha banda favorita da atualidade) numa rádio australiana fazendo um cover inusitado de usher. daí resolvi compilar algumas outras versões que eles já fizeram por aí. acho tudo foda.

“climax” (cover de usher)

“dark eyes” (cover de bob dylan)

“i dreamed i saw st. augustine” (cover de bob dylan)

“rise above” (cover de black flag)

“gimmie gimmie gimmie” (cover de black flag)

aliás, recomendo demais o disco “rise above” onde eles desconstroem as músicas do black flag. é lindo, cara.

por fim, boto essa “knotty pine” que não é versão de nada, mas é uma parceria deles com o david byrne.

já que o dirty projectors é constantemente comparado com eles, acho que seria o caso de fazer uma versão de alguma coisa do talking heads.

ia ser demais.


santa cruz 1

ontem rolou jogo do corinthians aqui em ribeirão preto contra o botafogo pelo campeonato paulista. foi um jogo legalzinho até, mas terminou zero a zero. isso você já sabe. eu quero falar de outra coisa.

no interior é assim: sempre que um time grande vem jogar por aqui, a comoção é grande. se esse time for o corinthians, é certeza de casa cheia. e é justamente aí que mora o problema.

os times do interior não estão acostumados a jogar com estádios lotados. isso só acontece quando a equipe vai bem no campeonato, o que é raro devido à falta de dinheiro para montar times bons e porque as federações fazem campeonatos (com o consentimento de todos os dirigentes, diga-se) priorizando o dinheiro em vez do esporte. por isso as tabelas favorecem os times grandes (que rendem mais dinheiro para as tvs, federações e patrocinadores) e deixam os pequenos comendo o pão que o diabo amassou (com o consentimento deles, de novo).

a idéia é evitar uma final de campeonato entre ituano e penapolense, por exemplo, pois na cabeça dos nossos cartolas débeis isso não dá grana (eu acharia o máximo). mas enfim…

em condições normais, o estádio santa cruz (do botafogo) comporta quase 35 mil pessoas, mas, (dizem que) por motivos de segurança, o jogo de ontem tinha uma carga de ingressos de pouco mais de 28 mil. ok.

o grande problema é que durante a semana toda ninguém sabia quanto desses 28 mil ingressos seriam destinados à torcida do corinthians e quantos seriam para o botafogo. ficou combinado que a torcida que adquirisse a maioria dos ingressos teria direito à parte central do estádio (os lugares mais nobres em qualquer estádio do mundo).

daí ficou uma briguinha para ver quem levava mais torcida para o jogo, com o time de ribeirão fazendo campanha nas redes sociais e até vendendo ingressos nos semáforos das avenidas mais movimentadas da cidade a fim de ter maior quórum dentro de casa. até aí tudo lindo.

no dia do jogo, à tarde, os jornais locais já noticiavam que não havia mais ingressos à venda, estavam todos esgotados. logicamente que a maioria era para a torcida do corinthians, aquele time que levou 30 mil pessoas para o japão recentemente, sabe? só que, obviamente, a polícia militar não previu que isso poderia acontecer, veja você.

quarenta minutos antes do jogo começar devia ter uns três mil corintianos do lado de fora, na fila para entrar no estádio. os portões foram abertos às 19h, mas o problema é que caiu um temporal gigantesco na cidade antes do jogo, daqueles de derrubar árvore e arrastar carros. teve até um carro que foi engolido por um buraco que se abriu no chão por causa da chuva.

sem falar que o estádio estava com apenas umas três catracas funcionando na entrada. só meia hora antes do jogo é que liberaram as restantes para tentar diminuir o caos.

a partir daí a revista da polícia militar ficou meia boca e também já não se conferia documentação para ingressos de meia entrada, por exemplo. vi até um cadeirante enfrentando o bololô para entrar no estádio. uma vergonha.

durante o intervalo de jogo ainda tinha gente entrando no estádio e, como não tinha espaço suficiente, começaram a escalar muretas e qualquer outra coisa onde desse para ver o jogo. nessa hora já devia ter umas duzentas pessoas em cima do teto dos banheiros. e a polícia ali achando lindo.

foi preciso o sistema de som pedir desesperadamente para o pessoal sair dali, pois existia um risco sério e real de desabamento, para a polícia tomar alguma atitude e retirar o pessoal. pelo menos não usaram a violência.

como ainda não havia espaço para todo mundo a pm resolveu liberar o anel superior central para o restante da torcida do corinthians. só que essa área estava interditada antes do jogo. acredito eu que era porque não estava apta para ser ocupada por milhares de pessoas ao mesmo tempo. mesmo assim a polícia liberou.

na mesma hora todo mundo começou a ficar preocupado com a possível cagada da polícia e, inevitavelmente, a lembrar das tragédias recentes da boate de santa maria e da arena do grêmio. quem foi prudente preferiu tentar arranjar uma vaguinha na arquibancada normal mesmo.

santa cruz 2

por sorte nada aconteceu e o jogo seguiu sem maiores incidentes, mas fica aqui registrado o acontecido já que na mídia local e regional o assunto não recebeu o menor destaque, apenas foi dito que “a torcida do corinthians reclamou bastante da organização” quando na verdade poderia ter acontecido uma tragédia sem precedentes na cidade.

o público oficial divulgado foi de pouco mais de 26 mil pessoas. não sei o que aconteceu os outros dois mil ingressos. sei que muita gente não conseguiu entrar no estádio e foi embora. isso ninguém falou.

eu não sei se vocês sabem, mas ribeirão preto está quase confirmada como uma das sub-sedes da copa do mundo do ano que vem. é provável que alguma seleção (quem sabe até mais de uma) fique hospedada na cidade, além de usar a estrutura de estádios, academias e centros de treinamento dos clubes da cidade. ocorrências como as de ontem são inadmissíveis.

e digo isso não apenas por causa da copa (foda-se a copa, a fifa que se vire), mas para a população local que é tratada com desrespeito em todos os momentos, seja no preço dos ingressos, seja nos serviços oferecidos, seja no tratamento recebido pelas autoridades (polícia e dirigentes inclusos).

duvido que alguém vá dar alguma explicação sobre o ocorrido. também dúvido que alguém vá pedir explicações.

o brasil precisa largar mão do famigerado “jeitinho brasileiro” e tomar vergonha na cara. já passou da hora de perceber que isso não é motivo de orgulho pra ninguém. depois que as merdas acontecem não adianta reclamar e dizer que não sabia de nada.

deixo vocês com um gif que eu fiz da noite de ontem, daquilo que é bonito nos estádios de futebol, mas infelizmente são atrapalhados pela incompetência, irresponsabilidade e conivência de alguns.

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ps: acho que o corinthians tem tudo pra ganhar o que quiser este ano, mas precisa contratar reservas de peso.

ps 2: gostei bastante do botafogo, apesar de não ter nenhum craque, e as vezes não primar pela técnica, é um time que não dá chutão e nem pontapés. tem tudo para se classificar para a fase final do paulistão. estarei torcendo.




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