melhores discos nacionais de 2009 #6 – “pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe…”, emicida

06jan10

emicida vem sendo considerado uma espécie de injeção de novo fôlego ao rap nacional. isso talvez aconteça pelo fato de em suas letras não ter medo de assumir que se o sucesso e, consequentemente, o dinheiro vier ele não vai ser hipócrita de recusar. pelo visto, este ainda é um dilema besta que parece perturbar os sonhos de vários de seus pares. e ele parece saber exatamente onde está pisando: “sei que se eu não for desconfiado em uma ano viro rei, em dois lenda, em três passado”, diz a letra de “e.m.i.c.i.d.a (adooooro)”.

mas mais do que isso, o que faz os ouvidos prestarem atenção no rapaz é a facilidade que ele demonstra em fazer rimas criativas por cima de bases diversificadas que botam no mesmo balaio, samba, metais soul e um pouquinho de jazz aqui e ali. apesar de eu ter me frustrado um pouco com essas bases ao longo do disco (há momentos de baixa), na maior parte do tempo as canções fogem do lugar comum principalmente quando as bases são mais orgânicas e apresentam arranjos de metais mais vigorosos, bateria mais quente e baixo grooveado. não por acaso tais canções se sobressaem no disco.

uma espécie de mixtape de luxo, “pra quem já mordeu…” flui de forma ininterrupta, ou seja, segue a cartilha escrita pelo “sgt. pepper’s…” dos beatles: não há divisões perceptíveis entre as faixas. tudo parece uma grande história do começo ao fim.

no entanto, as letras espertas, por vezes, acabam sendo soterradas pela batida repetitiva e a fala monótona em algumas canções. acho que o grande mérito do disco está naquelas canções onde emicida tenta aproximar o rap da música pop, afinal de contas uma coisa não exclui a outra, certo?

fico imaginando o estrago que esse cara seria capaz de fazer se, ao invés de se apresentar apenas com um dj mandando as batidas e scratches, ele se apresentasse com uma banda criativa que improvissasse junto com ele. tome como base o the roots ou até mesmo os beastie boys e você tem uma idéia de onde eu quero chegar. música sendo tocada ali, na hora, organicamente. some a isso as possibilidades quase infinitas dos ritmos brasileiros e temos uma belíssima mistura.

querendo ou não é mais ou menos o que marcelo d2 tenta fazer. a diferença é que emicida é melhor rimador que o carioca. acredito que se o rapper paulistano começar a experimentar com ritmos e produções mais elaboradas poderia virar uma espécie de dizzie rascal brazuca que, mesmo mergulhando o rap em várias vertentes da música pop, consegue penetrar no mainstream e alcançar tanto o público do gueto quanto a playboyzada na pista. a excelente “triunfo” já meio que aponta este caminho.

o próprio emicida parece reconhecer isso na cutucada que dá na cena do hip hop nacional em “hey rap” quando aponta que, hoje em dia, há mais scratches em bandas de rock do que em grupos de rap.

e o carisma do cara é inegável: “lá em casa nunca teve nenhum home theater surround, mas não é miséria é que o bagulho lá é underground”, canta ele.

já é um bom começo.

e.m.i.c.i.d.a – “pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe…”

1. Intro (É necessário voltar ao começo)
2. E.M.I.C.I.D.A. (Adoooro)
3. Sozim
4. Rotina
5. Pra mim… (Isso é viver)
6. Ainda Ontem (com Rashid, Projota & Fióti)
7. Pra não ter tempo ruim (com Mariana Timbó)
8. Só isso
9. Vô busca minha fulô…
10. Ela diz
11. Por Deus por favor
12. Preciso (Melô do mundiko)
13. A cada vento (com Paulo)
14. Sei lá… (com Rael da Rima)
15. Cidadão
16. Soldado sem bandeira
17. Vai ser rimando
18. Um, dois, três, quatro…
19. Fica mais um pouco amor…
20. Outras Palavras (com Rael da Rima)
21. Hey rap!
22. Essa é pra você primo…
23. Triunfo
24. Eu tô bem (com Daniel Cohen)
25. Ooorra… (A que deu nome à mixtape)

download